Escreve-se no Facebook que o chá de funcho ajuda a aliviar a inflamação no estômago e as crises de azia. Para isso, a autora da publicação aconselha adicionar uma colher de sementes de funcho em água a ferver, tapar e deixar repousar de 10 a 15 minutos.

Noutra publicação na mesma rede social, sugere-se que o chá de funcho tem “ótimas propriedades anti-inflamatórias” que ajudam a aliviar a inflamação do estômago e a sensação de azia.

Nas duas publicações é dito que, para o efeito pretendido, deve beber duas a três chávenas por dia, 20 minutos antes da refeição.

Já no TikTok, o chá de funcho é apresentado como um chá que, entre outras funções, “combate a dor de estômago” e “melhora a digestão”. Os benefícios devem-se a compostos como “anetol, sapominas, flavonóides, taninos, cumarinas e ácido rosmarínico” nas folhas e sementes.

Mas será mesmo que este chá alivia a aliviar os sintomas de inflamação no estômago e a azia? O Viral consultou uma gastroenterologista e investigadora.

É verdade que o chá de funcho pode ajudar a aliviar sintomas de azia?

Ana Célia Caetano, gastroenterologista no Hospital de Braga, professora da Escola de Medicina da Universidade do Minho e investigadora no Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) da Universidade do Minho, reconhece que o chá de funcho (Foeniculum vulgare Mill) “poderá aliviar” os sintomas digestivos devido às suas propriedades anti-inflamatórias.

A médica consultada pelo Viral refere que há poucos estudos sobre esta planta, que tem “propriedades medicinais”. 

A especialista esclarece que este alívio dá-se devido ao “efeito inibidor” do músculo liso, que compõe as paredes do tubo digestivo e dos sistemas urinário e ginecológico.

Nesse sentido, o chá de funcho poderá também ajudar a aliviar vários “sintomas viscerais, como cólicas abdominais, dores menstruais e desconforto urinário”, aponta.

Uma revisão sobre a Foeniculum vulgare Mill, publicada na BioMed Research International, sugere que o funcho é uma “importante planta medicinal” utilizada para uma “ampla variedade de tratamentos”, como gastrite, dor de estômago, diarreia, doenças renais, entre outras. No entanto, os investigadores sublinham a necessidade de fazer mais estudos para se obter conclusões mais robustas.

Além do funcho, o chá de sálvia e de camomila poderão também ajudar no alívio de sintomas digestivos, aponta a investigadora no ICVS da Universidade do Minho. 

No entanto, a gastroenterologista no Hospital de Braga realça que é importante “estar atento aos sinais de alarme” que possam indicar a necessidade de uma avaliação médica.

Que sinais são esses? Perda de peso não intencional, vómitos, dor incapacitante e histórico familiar de cancro gástrico.

Assim sendo, embora o chá de funcho possa ajudar a aliviar alguns sintomas gastrointestinais, os estudos sobre esta planta ainda são reduzidos e a toma desta infusão não substitui o aconselhamento médico, sobretudo quando as crises de azia ou as dores de estômago são frequentes.

O que é o estômago inflamado? E a azia? Quais são os cuidados a ter?

Ao Viral, Ana Célia Caetano explica que o termo que se usa para designar estômago inflamado é gastrite, que pode ser aguda ou crónica.

Os sintomas de gastrite, refere a médica do Hospital de Braga, são “dor ou desconforto” na parte superior do abdómen e “sensação de distensão abdominal, de enfartamento e de saciedade precoce”.

As causas podem ser “múltiplas”, como a infeção pela bactéria Helicobacter pylori e medicamentos anti-inflamatórios ou corticóides, enumera a especialista. O tabaco, cafeína, gorduras ou álcool também podem provocar gastrites.

Já a azia é uma “sensação de queimadura” no tórax central até ao pescoço provocada habitualmente por refluxo gastroesofágico.

Para diminuir a inflamação no estômago e a azia é aconselhado, sobretudo, fazer alterações do estilo de vida, nomeadamente na alimentação e nos hábitos tabágicos.

No caso da azia, pode ser necessário “fazer refeições leves” e evitar comer “nas horas antes de deitar”. Não são aconselhados alimentos ricos em cafeína, citrinos, bebidas gaseificadas e álcool.

As pessoas com esta sensação também devem evitar o tabaco, indica a professora da Escola de Medicina da Universidade do Minho.

Pode também ser preciso tomar medicação “inibidora da produção da secreção” ácida gástrica, responsável pela azia, aponta.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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